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PolíticaEspanha

MP pede arquivamento de caso contra esposa de Sánchez

26 de abril de 2024

Premiê espanhol cogitou renunciar após abertura de inquérito sobre "tráfico de influência e corrupção" contra primeira-dama. Grupo ultradireitista que fez denúncia disse que "não garantia a veracidade" das acusações.

Begona Gómez e Pedro Sánchez durante eleições regionais, em maio de 2023
Begona Gómez e Pedro Sánchez durante eleições regionais, em maio de 2023Foto: Javier Soriano/AFP/Getty Images

O Ministério Público da Espanha pediu nesta quinta-feira (25/04) o arquivamento de uma investigação preliminar aberta contra a esposa do primeiro-ministro Pedro Sánchez, que levou o chefe de governo a afirmar que cogitava a renúncia do cargo.

Um tribunal em Madri informou na quarta-feira ter iniciado uma investigação sobre "tráfico de influência e corrupção" contra Begona Gómez, para averiguar se a primeira-dama espanhola havia abusado de sua posição para, supostamente, garantir patrocinadores para um curso de mestrado universitário que ela dirigia.

Gomez, 49 anos, não ocupa cargo público e mantém um perfil político discreto. A investigação foi aberta em resposta a uma denúncia do grupo de ativismo anticorrupção Manos Limpias ("Mãos Limpas"), cujo líder tem ligações com a ultradireita espanhola.

Denúncias com base na imprensa

O grupo, que já entrou com uma série de pedidos frustrados de investigação contra políticos, afirmou em nota que suas denúncias eram baseadas em relatos na imprensa, e não podia garantir a veracidade das mesmas. A nota diz ainda que, se as informações não forem verdadeiras, os que as publicaram que terão de "assumir as responsabilidades".

Embora a Manos Limpias se descreva como um sindicato, sua principal atividade é a propositura de ações judiciais, como a chamada "acusação popular". Essa peculiaridade da lei espanhola permite que indivíduos ou entidades participem de determinados processos criminais, mesmo que não tenham sido diretamente prejudicados pelo acusado.

O fundador do grupo, Miguel Bernard, lidera um pequeno movimento de extrema direita chamado Frente Nacional. Em 2021, ele foi condenado a quatro anos de prisão por envolvimento em um suposto esquema de extorsão, mas acabou sendo inocentado por falta de provas.

Sánchez critica "campanha de assédio"

Após a denúncia, Sánchez divulgou uma carta na rede social X anunciando que estava suspendendo suas funções públicas até segunda-feira, quando então deverá ter tomado uma decisão. "Preciso urgentemente de uma resposta para a questão de saber se (...) devo continuar a liderar o governo ou renunciar a essa honra", escreveu.

O socialista Sanchez, que formou em novembro um novo governo de coalizão de esquerda depois de oferecer anistia a separatistas catalães exilados, afirmou na carta que a denúncia era baseada em fatos "inexistentes" e fazia parte de uma campanha de "assédio" contra sua esposa liderada pela mídia "ultraconservadora" e apoiada pela oposição conservadora e de ultradireita.

Nesta quinta-feira, o Ministério Público informou que pediu a "anulação dos procedimentos" na corte madrilenha e o "arquivamento do caso".

O tribunal não divulgou detalhes da investigação contra Gómez, mas, segundo o portal de notícias El Confidencial, ela teria se reunido em duas ocasiões com o CEO da empresa de turismo Globalia, dona da Air Europa, na mesma época em que a companhia aérea negociava um resgate financeiro junto ao governo após ser duramente atingida pela suspensão de suas atividades durante a pandemia de covid-19.

À época, Gómez administrava a fundação IE Africa Center, associada à faculdade empresarial Instituto de Empresa, que patrocinava a Globalia em 2020. De acordo com o El Confidencial, a investigação também avalia supostas cartas de apoio que ela teria escrito em favor de uma joint venture que tentava fechar um contrato público.

Demonstrações de apoio a Sánchez

Lideranças do Partido Socialista da Espanha (PSOE) de Sánchez expressaram apoio unânime ao chefe de governo e pediram sua permanência no cargo. Além de ministros de Estado e lideranças regionais, socialistas críticos e até desafetos do primeiro-ministro também saíram em sua defesa, assim como alguns de seus ex-adversários a nomeações para as disputas a cargos eletivos dentro do partido.

O ex-chefe de governo José Luis Rodríguez Zapatero pediu que a sociedade se mobilize "em prol da democracia" e criticou os "ataques permanentes" que Sánchez vem sofrendo por parte da oposição conservadora.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ter conversado nesta quinta-feira com Sánchez e enviou seu apoio ao líder espanhol. Em postagem no X, Lula disse que expressou sua "solidariedade a sua liderança e papel por uma Espanha democrática e cada vez mais justa, próspera e humana".

"Sua força e papel são importantes para o seu país, para a Europa e para o mundo", disse o presidente, que é um aliado próximo de Sánchez, a quem recebeu no Palácio do Planalto em março deste ano.

rc/cn (AFP, EFE)