A edilidade de Maputo já não está a pagar as casas arrendadas onde vivem mais de 250 famílias afetadas pelo desabamento da lixeira no bairro de Hulene, que dizem estar a sofrer ameaças de expulsão.
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As famílias cujas casas foram destruídas pelo desabamento da lixeira no bairro de Hulene em 19 de fevereiro de 2018, denunciam que foram abandonadas pelo município de Maputo.
Na altura, a edilidade liderada por David Simango transferiu as mais de 250 famílias afetadas e aquelas que viviam nos arredores da lixeira para o bairro do Albazine, a mais de 20km da capital.
A família de Carlos Pedro deve quatro meses de renda e está a ser ameaçada de expulsão.
"Se me tirarem, só posso levar minha família até ao município, porque foi o município que destruiu a minha casa. Seja como for, vou levar a minha família até lá no município. Eles saberão o que fazer. Não tenho outro sítio, nem tenho irmão que me possa dar espaço", conta à DW.
Dívidas e abandono
Muitas das famílias afetadas dizem que estão a acumular dívidas de arrendamento. As a relações com os senhorios são tensas, diz António Maolela.
"O convívio com o proprietário era fácil. Havia bom entendimento porque pagávamos antecipadamente, não tínhamos problemas. Mas a dado momento, o Concelho Municipal deixou de pagar a tempo e horas e estamos a ter muitas dificuldades mesmo com os proprietários", revela.
O chefe de quarteirão deste grupo, Bernardo Cumbe, diz que foram feitas diligências junto do município, agora liderado Eneas Comiche, mas a resposta não chega.
"O município despreza-nos. Já o contatámos várias vezes, mas o município nunca deu resposta satisfatória ao nosso pedido. Portanto, estamos muito preocupados, porque as nossas reclamações não têm sido bem acolhidas", lamenta Bernardo Cumbe.
Intervenção presidencial
Por falta de resposta do município, o grupo dos antigos moradores das redondezas da lixeira e aqueles que foram diretamente afetados criaram uma comissão de moradores. Esta é liderada por António Massingue, que quer que seja o próprio Presidente da Republica, Filipe Nyusi, que na altura visitou o local, a resolver o problema.
"Queríamos que o chefe de Estado levasse a nossa situação a peito. Da mesma forma como ele apareceu com aquela ênfase e nos mostrou que, de facto, estava preocupado com o seu povo. Queríamos que o chefe de Estado recuasse no tempo, olhasse para nós e dissesse: 'Já passou um tempo suficiente, prometemos organizar as casas em um ano, este é o terceiro ano'. Então, é um tempo suficiente para ver que o sofrimento do povo," disse Massingue.
Dezesseis pessoas morreram na sequência do desabamento da lixeira de Hulene, no início de 2018. O município retirou então do local outras famílias que estavam em risco.
Chuva intensa causa estragos em Maputo
Depois de um fim-de-semana de chuvas intensas, os velhos problemas de saneamento voltaram a afetar os bairros periféricos da capital de Moçambique, como Hulene, Ferroviário, Laulane, Maxaquene e Polana Caniço.
Foto: Romeu da Silva/DW
A força das águas
Depois de um fim de semana de chuvas intensas, os velhos problemas de saneamento voltaram a afetar os bairros periféricos da capital de Moçambique, como Hulene, Ferroviário, Laulane, Maxaquene e Polana Caniço. Habitantes tentam agora reparar os estragos em casas e ruas inundadas.
Foto: Romeu da Silva/DW
Silo não resistiu
No bairro da Maxaquene, o município de Maputo está a construir um silo para armazenar as águas de uma rua que fica inundada sempre que chove. O empreendimento não aguentou a intensidade das chuvas do fim de semana e a própria estrutura ficou inundada.
Foto: Romeu da Silva/DW
Novo desabamento na lixeira de Hulene
Foi neste local, há três anos, que um monte de lixo deslizou e matou 16 pessoas, destruindo várias residências. Um novo desabamento na sequência das últimas chuvas em Maputo não causou danos. Com crónicos problemas de erosão, o bairro de Hulene não foi tão afetado pela intempérie. Desta vez, os residentes colocaram vários detritos, sobretudo plástico, para travar o avanço da areia.
Foto: Romeu da Silva/DW
Reparar os estragos
Em vários bairros, o cenário repete-se: residentes com ferramentas nas mãos tentam reparar os danos causados pelas chuvas intensas. A água invadiu muitas residências como esta, no bairro Ferroviário, e os moradores apressam-se a tapar as aberturas criadas pela queda da chuva.
Foto: Romeu da Silva/DW
Ruas alagadas
Dentro e fora de casa, a água estagnada após a chuva intensa é um enorme problema para os moradores.
Foto: Romeu da Silva/DW
Vias intransitáveis
Sempre que chove, as vias de acesso ficam neste estado. É praticamente impossível a circulação de viaturas.
Foto: Romeu da Silva/DW
Andar a pé também é um problema
O município está a tentar várias técnicas de bombeamento para retirar as águas estagnadas das ruas. Enquanto isso, os peões vêem-se forçados a recorrer a botas de cano alto para andar nas tuas alagadas. Há mesmo quem alugue as suas botas para a travessia dos charcos.
Foto: Romeu da Silva/DW
Nem os muros travam a chuva
Nesta e em muitas residências no bairro da Maxaquene, as águas destruíram a vedação, que não foi capaz de impedir as inundações. Ao fundo da rua, trabalhadores municipais tentam bombear as águas para reduzir o impacto da enchente.
Foto: Romeu da Silva/DW
Muito trabalho pela frente
As imagens impressionam: bastaram alguns dias de chuvas fortes para muitas casas como esta, no bairro de Polana Caniço, sofrerem com os problemas de saneamento.
Foto: Romeu da Silva/DW
Conduzir pelas águas
Nas ruas e avenidas da periferia só mesmo quem tem uma viatura com suspensão alta é que pode arriscar entrar nestas "lagoas" para circular.
Foto: Romeu da Silva/DW
Obstáculos à rotina
Muitas famílias passaram noites em claro para enfrentar a tempestade. Mal a chuva passou, puseram mãos à obra para limpar casas e pertences. Nos dias seguintes, o dia-a-dia foi dificultado pelas águas estagnadas.
Foto: Romeu da Silva/DW
Água, água e mais água
As ruas assemelham-se a cursos de água nos bairros periféricos. Os residentes fazem muita ginástica para encontrarem as principais vias que dão acesso ao centro da cidade.